A GRANDEZA DO SANTO
SACRIFÍCIO DA MISSA
I. É Jesus Cristo a
vítima oferecida na Santa Missa
O
Concílio de Trento (Sess. 22) diz da Santa Missa: “Devemos reconhecer que
nenhum outro ato pode ser praticado pelos fiéis que seja tão santo como a
celebração deste imenso mistério”. O próprio Deus todo-poderoso não pode fazer
que exista uma ação mais sublime e santa do que o santo sacrifício da Missa. Este
sacrifício de nossos altares sobrepassa imensamente todos os sacrifícios do
Antigo Testamento, pois não são mais bois e cordeiros que são sacrificados, mas
é o próprio Filho de Deus que se oferece em sacrifício. “O judeu tinha o animal
para o sacrifício, o cristão tem Cristo”, escreve o venerável Pedro de Clugny;
“seu sacrifício é, pois, tanto mais precioso, quanto mais acima de todos os
sacrifícios dos judeus está Jesus Cristo”. E acrescenta que, “para os servos
(isto é, para os judeus, no Antigo Testamento), não convinham outros animais
senão aqueles que eram destinados ao serviço do homem; para os amigos e filhos
foi Jesus Cristo reservado como cordeiro que nos livra do pecado e da morte
eterna” (Ep. cont. Petrobr.). Tem, portanto, razão São Lourenço Justiniano,
dizendo que não há sacrifício maior, mais portentoso e mais agradável a Deus do
que o santo sacrifício da Missa (cfr. Sermo de Euch.).
S.
João Crisóstomo diz que durante a Santa Missa o altar está circundado de anjos
que aí se reúnem para adorar a Jesus Cristo que, nesse sacrifício sublime, é
oferecido ao Pai celeste (De sac., 1, 6). Que cristão poderá duvidar, escreve
S. Gregório (Dial. 4, c. 58), que os céus se abram à voz do sacerdote, durante
esse Santo Sacrifício, e que coros de anjos assistam a esse sublime mistério de
Jesus Cristo. S. Agostinho chega até a dizer que os anjos se colocam ao lado do
sacerdote para servi-lo como ajudantes.
II. Na Santa Missa é
Jesus Cristo o oferente principal
O
Concílio de Trento (Sess. 22, c. 2) ensina-nos também que neste sacrifício do
Corpo e Sangue de Jesus Cristo é o próprio Salvador que oferece em primeiro
lugar esse sacrifício, mas que o faz pelas mãos do sacerdote que escolheu para
seu ministro e representante. Já antes dissera São Cipriano: “O sacerdote
exerce realmente o ofício de Jesus Cristo” (Ep. 62). Por isso o sacerdote diz,
na elevação: "Isto é o meu corpo; este é o cálice de meu sangue".
Belarmino
(De Euch., 1. 6, c. 4) escreve que o santo sacrifício da missa é oferecido por
Jesus Cristo, pela Igreja e pelo sacerdote; não, porém, do mesmo modo por
todos: Jesus Cristo oferece como o sacerdote principal, ou como o oferente
próprio, contudo, por intermédio de um homem, que é, no mesmo tempo sacerdote e
ministro de Cristo; a Igreja não oferece como sacerdotisa, por meio de seu
ministro, mas como povo, por intermédio do sacerdote; o sacerdote, finalmente,
oferece como ministro de Jesus Cristo e como medianeiro ele todo o povo.
Jesus
Cristo, contudo, é sempre o sacerdote principal na Santa Missa, onde ele se
oferece continuamente e sob as espécies de pão e de vinho por intermédio dos
sacerdotes, seus ministros, que representam a sua Pessoa quando celebram os
santos mistérios. Por isso diz o quarto Concílio de Latrão (Cap. Firmatur, de
sum. Trinit.) que Jesus Cristo é ao mesmo tempo o sacerdote e o sacrifício. De
fato, convém à dignidade deste sacrifício que ele não seja oferecido, em
primeiro lugar, por homens pecadores, mas por um sumo sacerdote que não esteja
sujeito ao pecado, mas que seja santo, inocente, imaculado, separado dos
pecadores e mais elevado que os céus (Heb 7, 26).
III. A Santa Missa é
uma representação e renovação do sacrifício da cruz
Segundo
São Tomás (Off. Ss. Sac., I. 4), o Salvador nos deixou o Santíssimo Sacramento
para conservar viva entre nós a lembrança dos bens que nos adquiriu e do amor
que nos testemunhou com sua morte. Por isso o mesmo Doutor chama a Sagrada
Eucaristia “um manancial perene da paixão”.
Ao
assistires, pois, à Santa Missa, alma cristã, pondera que a hóstia que o
sacerdote oferece é o próprio Salvador que por ti sacrificou o seu sangue e a
sua vida. Entretanto, a Santa Missa não é somente uma representação do
sacrifício da cruz, mas também uma renovação do mesmo, porque em ambos é o
mesmo sacerdote e a mesma vítima, a saber, o Filho de Deus Humanado. Só no modo
de oferecer há uma diferença: o sacrifício da cruz foi oferecido com
derramamento de sangue; o sacrifício da missa é incruento; na cruz, Jesus
morreu realmente; aqui, morre só misticamente (Conc. Trid., Sess. 22, c. 2).
Imagina,
durante a Santa Missa, que estás no monte Calvário, para ofereceres a Deus o
sangue e a vida de seu adorável Filho, e, ao receberes a Santa Comunhão,
imagina beberes seu precioso sangue das chagas do Salvador. Pondera também que
em cada Missa se renova a obra da Redenção, de maneira que, se Jesus Cristo não
tivesse morrido na cruz, o mundo receberia, com a celebração de uma só Missa,
os mesmos benefícios que a morte do Salvador lhe trouxe. Cada Missa celebrada
encerra em si todos os grandes bens que a morte na cruz nos trouxe, diz São
Tomás (In Jo 6, lect. 6). Pelo sacrifício do altar nos é aplicado o sacrifício
da cruz. A paixão de Jesus Cristo nos habilitou à Redenção; a Santa Missa nos
faz entrar na posse dela e comunica-nos os merecimentos de Jesus Cristo.
IV. A Santa Missa é o
maior presente de Deus
Na
Santa Missa, o próprio Jesus Cristo dá-se a nós. É uma verdade de fé que o
Verbo Encarnado se obrigou a obedecer ao sacerdote, quando este pronuncia as
palavras da consagração e a vir às suas mãos sob as espécies do pão e do vinho.
Fica-se estupefato por Deus ter obedecido outrora a Josué e mandado ao sol que
parasse, quando ele disse: Sol, não te movas de Gabaon, e tu, ó lira, do vale
de Ajalon (Jos 10, 12). Entretanto, muito mais admirável é que Deus mesmo desce
ao altar ou a qualquer outro lugar a que o Padre o chama com umas poucas
palavras, e isso tantas vezes quantas é chamado pelo sacerdote, mesmo que este
seja seu inimigo. E, tendo vindo, se põe o Senhor à inteira disposição do
sacerdote; este o leva, à vontade, de um lugar para o outro, coloca-o sobre o
altar, fecha-o no tabernáculo, tira-o da igreja, toma-o na Santa Comunhão, e o
dá em alimento a outros. São Boaventura diz que o Senhor, em cada Missa, faz ao
mundo um benefício igual àquele que lhe fez outrora pela encarnação (cfr. De
inst. Novit., p. 1, c. 11). Se Jesus Cristo não tivesse vindo ao mundo, o sacerdote,
pronunciando as palavras da consagração, o introduziria nele. “Ó dignidade
sublime a do sacerdote”, exclama por isso Santo Agostinho (Mol. lnstr. Sach.,
t. 1, c. 5), “em cujas mãos o Filho de Deus se reveste de carne, como no seio
da Virgem Mãe”.
Numa
palavra, a Santa Missa, conforme a predição do profeta (Zac 9, 17), é a coisa
mais preciosa e bela que possui a Igreja. São Boaventura (De inst. Nov., 1. c.)
diz que a Santa Missa nos põe diante dos olhos todo o amor que Deus nos dedicou
e que é, de certo modo, um compêndio de todos os benefícios que ele nos fez.
OS QUATRO FINS DO
SANTO SACRIFÍCIO DA MISSA
I. A Santa Missa é um
sacrifício latrêutico
No
Antigo Testamento os homens procuravam honrar a Deus por toda a espécie de
sacrifícios, no Novo Testamento, porém, presta-se maior honra a Deus com um só
sacrifício da Missa do que com todos os sacrifícios do Antigo Testamento, que
eram só figuras e sombras da Sagrada Eucaristia. Pela Santa Missa se presta a
Deus a honra que lhe é devida, porque, por meio dela, Ele recebe a mesma honra
infinita que Jesus Cristo lhe prestara sacrificando-se na cruz. Uma só Missa
presta a Deus maior honra que todas as orações e penitências dos santos, todos
os trabalhos dos apóstolos, todos os sofrimentos dos mártires, todo o amor dos
serafins e mesmo da Mãe de Deus, porque todas as honras dos homens são de
natureza finita, enquanto a honra que Deus recebe pela Missa é infinita, pois
lhe é prestada por uma pessoa divina, o seu Filho.
Devemos
por isso reconhecer, com o santo Concílio de Trento, que a Santa Missa é a mais
santa e divina de todas as obras (Sess. 22). Nosso Senhor morreu especialmente
para esse fim, para poder criar sacerdotes do Novo Testamento. Não era
necessário que o Salvador morresse para remir o mundo; uma só gota do seu
sangue, uma lágrima, uma só oração teria bastado para operar a salvação de
todos, porque, sendo essa oração de valor infinito, seria suficiente para remir
não só um mundo, mas também mil mundos. Para criar, porém, um sacerdote devia
Jesus Cristo morrer, pois, do contrário, donde se tiraria esse sacrifício que
agora oferecem a Deus os sacerdotes do Novo Testamento, esse santo e imaculado
sacrifício que, por si só, basta para dar a Deus a honra que lhe é devida?
Ainda que se sacrificasse a vida de todos os anjos e santos, mesmo assim, esse
sacrifício não prestaria a Deus essa honra infinita, que lhe dá uma única Santa
Missa.
II. A Santa Missa é um
sacrifício propiciatório
Pode-se
deduzir já da instituição da Sagrada Eucaristia que a Santa Missa é
verdadeiramente um sacrifício propiciatório, ou seja, que inclina Deus a nos
perdoar a pena e a culpa dos pecados, que foi feita especialmente para a
remissão dos pecados: Este é o meu, sangue, que será derramado por muitos, para
remissão dos pecados, disse Jesus Cristo (Mt 26, 28). A Santa Missa perdoa até
os maiores pecados, não imediatamente, mas só mediatamente, como afirmam os
teólogos, isto é, Deus, em consideração ao sacrifício do altar, concede a graça
que leva o homem a detestar seus pecados e a purificar-se deles no sacramento
da Penitência. Quanto às penas temporais, que devem ser expiadas depois da
destruição da culpa, são elas perdoadas por virtude da Santa Missa, ao menos
parcialmente, quando não de todo. Numa palavra, a Santa Missa abre os tesouros
da divina misericórdia em favor dos pecadores.
Desgraçados
de nós se não houvesse esse grande sacrifício, que impede à justiça divina de
nos enviar os castigos que merecemos por nossos pecados. É certo que todos os
sacrifícios do Antigo Testamento não podiam aplacar a ira de Deus contra os
pecadores. Se se sacrificasse a vida de todos os homens e anjos, a justiça
divina não seria satisfeita devidamente nem sequer por uma única falta que a
criatura tivesse cometido contra seu Criador. Só Jesus Cristo podia satisfazer
por nossos pecados: Ele é a propiciação pelos nossos pecados (1 Jo 2, 2). Por
isso o Padre Eterno enviou o seu Filho ao mundo, para que se fizesse homem
mortal e, pelo sacrifício de sua vida, o reconciliasse com os pecadores. Esse
sacrifício é renovado em cada Missa. Não há dúvida: o sangue inocente do
Redentor clama muito mais fortemente por misericórdia em nosso favor, que o
sangue de Abel por vingança contra Caim.
Este
sacrifício pode ser oferecido também pelos defuntos. Por isso o sacerdote, na
Santa Missa, pede ao Senhor que se recorde de seus servos que partiram para a
outra vida e que lhes conceda, pelos merecimentos de Jesus Cristo, o lugar de
repouso, da luz e da paz. Se o amor de Deus que possuem as almas ao saírem
desta vida não basta para purificá-las, essa falta será reparada pelo fogo do
Purgatório; muito melhor, porém, a repara o amor de Jesus Cristo por meio do
sacrifício eucarístico, que traz às almas grande alívio e, muitas vezes, até a
libertação completa dos seus sofrimentos. O Concílio de Trento declara que as
almas que sofrem no Purgatório podem ser muito auxiliadas pela intercessão dos
fiéis, mas em especial pelo santo sacrifício da Missa. E acrescenta (Sess. 22,
c. 2) que isso é uma tradição apostólica. Santo Agostinho exorta-nos a oferecer
o sacrifício cia Santa Missa por todos os defuntos, caso que não possa
aproveitar às almas pelas quais pedimos.
III. A Santa Missa é
um sacrifício eucarístico
É
justo e razoável que agradeçamos a Deus pelos benefícios que nos fez em sua
infinita bondade. Mas que digno agradecimento podemos dar-lhe nós, miseráveis?
Se Deus nos tivesse dado uma única vez um sinal de sua afeição, estaríamos
obrigados a um agradecimento infinito, porque esse sinal de amor seria o favor
e dom de um Deus infinito. Mas eis que o Senhor nos deu esse meio de cumprir
com nossa obrigação e de agradecer-lhe dignamente. E como? Tornando-nos
possível oferecer-lhe na Santa Missa a Jesus Cristo. Dessa maneira dá-se a Deus
o mais perfeito agradecimento e satisfação; pois, quando o sacerdote celebra a
Santa Missa, dá-lhe um digno agradecimento por todas as graças, mesmo por
aquelas que foram concedidas aos santos no céu; uma tal ação de graças, porém,
não podem prestar a Deus todos os santos juntos, de maneira que também nesse
respeito a dignidade sacerdotal sobrepuja todas as dignidades, não excetuadas
as do céu.
Na
Santa Missa, a vítima que é oferecida ao Eterno Pai é seu próprio Filho, em
quem pôs toda a sua complacência. Por isso dirigia Davi suas vistas a este
sacrifício, quando pensava num meio de agradecer a Nosso Senhor pelas graças
recebidas: Que darei ao Senhor por tudo que ele me tem feito? pergunta ele, e
responde: Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor (S1 115,
12). O próprio Jesus Cristo agradeceu a seu Pai celeste todos os benefícios que
tinha feito aos homens, por meio deste sacrifício: E, tomando o cálice, deu
graças e disse: Tomai-o e distribuí-o entre vós (Lc 22, 17).
IV. A Santa Missa é um
sacrifício impetratório
Se
já temos a segura promessa de alcançar tudo que pedimos a Deus em nome de Jesus
Cristo (cfr. Jo 16, 23), muito maior deve ser a nossa confiança se oferecemos a
Deus seu próprio Filho. Este Salvador que nos ama roga por nós sem cessar lá no
céu (cfr. Rom 8, 31), mas, de modo todo especial, durante a Santa Missa, em que
se sacrifica a seu Eterno Pai, pelas mãos do sacerdote, para nos alcançar suas
graças. Se soubéssemos que todos os santos e a Santíssima Virgem estão rezando
por nós, com que confiança não esperaríamos de Deus os maiores favores e
graças. Está, porém, fora de dúvida que um só rogo de Jesus Cristo pode
infinitamente mais que todas as suplicas dos santos.
No
Antigo Testamento era permitido unicamente ao sumo sacerdote, e isso uma só vez
no ano, entrar no santo dos santos; hoje, porém, todos os sacerdotes podem
sacrificar todos os dias ao Eterno Pai o cordeiro divino, para alcançar de Deus
graças para si e para todo o povo.
O
sacerdote sobe ao altar para ser o intercessor de todos os pecadores. “Ele
exerce o ofício de um medianeiro”, diz São Lourenço Justiniano (Sermo de
Euchar.), “e por isso deve ser um intercessor para todos que pecam”.
"Dessa maneira“, diz São João Crisóstomo, “está o Padre no altar, no meio,
entre Deus e o homem; oferece a Deus as súplicas dos homens e alcança-lhes as
graças de que precisam” (Hom. 5 in Jo.). Deus distribui as suas graças sempre
que é rogado em nome de Jesus Cristo, mas as distribui com mais largueza
durante a Santa Missa, atendendo às suplicas do sacerdote, diz São João
Crisóstomo; pois essas súplicas são então acompanhadas e secundadas pela oração
de Jesus Cristo, que é o sacerdote principal, visto que é ele mesmo que se
oferece neste sacrifício para nos alcançar graças de seu Eterno Pai.
Segundo
o Concílio de Trento (Sess. 22, c. 2), é especialmente durante a Santa Missa
que o Senhor está sentado naquele trono de graças ao qual devemos nos chegar,
diz o Apóstolo, para alcançarmos misericórdia e encontrarmos graças no momento
oportuno (Heb 4, 16). Até os anjos esperam o tempo da Santa Missa, diz São João
Crisóstomo (Hom 13. De incomp. Dei nat.), para pedirem com mais resultado por
nós, acrescentando que dificilmente se alcançará aquilo que não se consegue
durante a Santa Missa.
A
Santíssima Virgem, depondo uma vez o Menino Jesus nos braços de Santa Francisca
Farnese, disse-lhe: “Eis aqui o meu Filho; aprende a torná-lo favorável a ti,
oferecendo-o muitas vezes a Deus. Dize, por isso, a Deus, quando vires presente
no altar o divino Cordeiro: Ó Pai Eterno, ofereço-vos hoje todas as virtudes,
todos os atos e todos os afetos de vosso mui amado Filho. Recebei-os por mim, e
por seus merecimentos, que ele mos deu e, por isso, são meus, dai-me as graças
que Jesus Cristo pedir por ruim. Ofereço-vos esses merecimentos para vos
agradecer por todas as misericórdias que tendes usado comigo e para satisfazer
por meus pecados. Pelos merecimentos de Jesus Cristo espero alcançar de vós
todas as graças, o perdão, a perseverança, o céu, mas especialmente o mais
precioso de todos os dons, o vosso puro e santo amor”.