terça-feira, 13 de dezembro de 2011

No mistério da Visitação o prelúdio da missão do Salvador




No episódio da Visitação, São Lucas mostra como a graça da Encarnação, depois de ter inundado Maria, leva graça e alegria à casa de Isabel. O Salvador dos homens, encerrado no seio da sua Mãe, efunde o Espírito Santo, manifestando-se desde o início da sua vinda ao mundo.

Ao descrever a partida de Maria para a Judéia, o evangelista usa o verbo “anistemi”, que significa “erguer-se”, “pôr-se em movimento”. Considerando que esse verbo é usado nos Evangelhos para indicar a ressurreição de Jesus (Mc. 4,31; 9,9.31; Lc. 24,7.46) ou ações matérias que comportam um impulso espiritual (Lc. 5,27-28; 15,18.20), podemos supor que Lucas queria ressaltar, com esta expressão o impulso vigoroso que conduz Maria, sob a inspiração do Espírito Santo a dar ao mundo o Salvador.

O texto evangélico refere, além disso, que Maria faz a viagem “à pressa” (Lc. 1,39). Também a anotação “para a montanha” (Lc. 1,39), no contexto lucano, parece muito mais do que uma simples indicação topográfica, pois faz pensar na mensagem da boa nova, descrita no livro de Isaias: “Que formosos são, sobre o monte, os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa nova, que apregoa a vitória! Que diz a Sião: o teu Deus é Rei” (Is. 52,7).

Como faz São Paulo, que reconhece a realização desse texto profético na pregação do Evangelho (Rm. 10,15), também São Lucas parece convidar a ver em Maria a primeira “evangelista”, que difunde a “boa nova”, dando início às viagens missionárias do divino Filho.

Particularmente significativa, por fim, é a direção da viagem da Virgem Santíssima: será da Galiléia à Judéia, como o caminho missionário de Jesus (cf. 9, 51).

Com efeito, com a visita a Isabel, Maria realiza o prelúdio da Missão de Jesus e, colaborando desde o início da sua maternidade na obra redentora do Filho, torna-se o modelo daqueles que na Igreja se põem em caminho, para levar a luz e a alegria de Cristo aos homens de todos os lugares e de todos os tempos.

O encontro com Isabel reveste os caracteres dum jubiloso evento salvífico, que supera o sentimento espontâneo da simpatia familiar. Lá onde o embaraço da incredulidade parece concretizar-se no mutismo de Zacarias, Maria irrompe com a alegria da sua fé pronta e disponível: “Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel” (Lc. 1,40).

São Lucas refere que “ao ouvir Isabel a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria no seio” (Lc. 1,41). A saudação de Maria suscita no filho de Isabel um salto de alegria: o ingresso de Jesus na casa de Isabel, por obra da Mãe, traz ao profeta nascituro aquela que o Antigo Testamento anuncia como sinal da presença do Messias.

À saudação de Maria, a alegria messiânica investe também Isabel, que “ficou cheia do Espírito Santo. Erguendo a voz, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc. 1,41-42).

Em virtude de uma iluminação superior, ela compreende a grandeza de Maria que, mais do que Jael e de Judite, suas prefigurações no Antigo Testamento, é bendita entre as mulheres, por causa do fruto do seu seio, Jesus, o Messias.

A exclamação de Isabel, feita “em voz alta”, manifesta um verdadeiro entusiasmo religioso, que a oração da Ave Maria continua a fazer ressoar nos lábios dos  crentes, como cântico de Louvor da Igreja pelas grandes obras realizadas pelo Altíssimo na Mãe do seu Filho.

Proclamando-a “bendita entre as mulheres”, Isabel indica o motivo da bem-aventurança de Maria na sua fé: “Feliz daquela que acreditou que teriam cumprimento as coisas que lhe foram ditas da parte do Senhor” (Lc. 1,45). A grandeza e a alegria de Maria têm origem no fato de ela ser aquela que acredita.

Ante a excelência de Maria, Isabel compreende também a honra que lhe constitui a sua visita: “E donde me é dado que venha ter comigo a Mãe do meu Senhor?” (Lc. 1,43). Com a expressão “meu Senhor” Isabel reconhece a dignidade régia, antes, messiânica, do Filho de Maria. No Antigo Testamento, com efeito, esta expressão era usada para se dirigir ao rei (cf. 1Rs. 1,13.20-21 etc.), e para falar do Rei-Messias (Sl. 110,1) De Jesus o Anjo tinha dito: “O Senhor Deus dar-lhe-á o trono de Seu pai Davi” (Lc. 1,32). “Cheia do Espírito Santo”, Isabel tem a mesma intuição. Mais tarde, a glorificação pascal de Cristo revelará em que sentido deve ser entendido, isto é, num sentido transcendente (cf. Jo. 20,28; At. 2.34-36).

Com a sua exclamação admirativa, Isabel convida-nos a apreciar tudo aquilo que a presença da Virgem traz como dom à vida de cada crente.

À Mãe do Batista a Virgem, na Visitação, leva Cristo, que efunde o Espírito Santo. Esse papel de mediadora é bem evidenciado pelas próprias palavras de Isabel: “Pois logo que chegou aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio” (Lc 1,44). A intervenção de Maria produz com o dom do Espírito Santo, como que um prelúdio do Pentecostes, confirmando uma cooperação que, iniciada com a Encarnação, é destinada a exprimir-se em toda a obra da salvação divina.

• L´Osservatore Romano, Ed. Port. n.40, 05/10/1996, pag. 12(476)

Do Livro: A VIRGEM MARIA – 58 Catequeses do Papa sobre Nossa Senhora, Papa João Paulo II


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